Monday, September 14, 2009

Gravity

"Something always brings me back to you. It never takes too long. No matter what I say or do I'll still feel you here 'til the moment I'm gone.
You hold me without touch. You keep me without chains. I never wanted anything so much than to drown in your love and not feel your rain.
Set me free, leave me be. I don't want to fall another moment into your gravity. Here I am and I stand so tall, just the way I'm supposed to be. But you're on to me and all over me.
You loved me 'cause I'm fragile. When I thought that I was strong. But you touch me for a little while and all my fragile strength is gone.
I live here on my knees as I try to make you see that you're everything I think I need here on The ground. But you're neither friend nor foe though I can't seem to let you go. The one thing that I still know is that you're keeping me down."

Sara Bareilles

De regresso...o mundo continua belo apesar de tudo...

"Isso tornou-se-me claro, hoje mesmo, de manhã, quando recordei o passeio que dei... há algumas noites atrás. Caminhava... ao cair da noite: tons delicados, silhuetas misteriosas... em suma, encantador! E recordei-me exactamente do que me acontecia antigamente. Achava isso tão bonito que se me apertava o coração. Sofria e não sabia o que fazer com esse sofrimento. Então dava-me vontade de escrever... porém as palavras nunca surgiam.
(...) Verifiquei com alegria que o mundo que Deus criou continua belo apesar de tudo. Como sempre apreciei intensamente esta paisagem silenciosa, mas desta vez apreciei-a com distância, digamos assim. E voltei fortalecida a casa e ao trabalho. E a paisagem permaneceu presente em segundo plano, como um invólucro à volta da minha alma, porém não me incomodava mais... olho para o que me rodeia com um brilho nos olhos. agora não quero possuir mais nada e estou livre, agora possuo tudo, agora a minha rqueza interior é infinita."

Etty Hillesum - Diário 1941-1943

Wednesday, December 17, 2008

Canário

"Eis o enorme problema das expectativas. Criam metas precisas, e até caminhos para lá chegar. Sonhavas, como qualquer um de nós. Hei-de fazer isto, viver aquilo, procupar estas pessoas, dar, dar-me, receberei.
(...)
Lembras perfeitamente o momento. Tu gostas tanto de antecipar momentos. Dá-te mesmo mais gozo do que vivê-los. És assim com as prendas, por exemplo. Gastas mais tempo e dedicação no embrulho do que na compra. Pensas na cara das pessoas a desatar os laços, a rasgar com cuidado o papel colorido, esse momento em que só tu sabes o que lá está e quem recebe está prestes a descobrir.
(...)
Levantou-se e abraçou-te. Lembras. (...) Acompanhada. É assim que os abraços nos fazem sentir. Lembras-te. Que nunca mais te sentiste assim. E que aquele momento era de ambos, e que não se pode explicar, porque não pertence ao reino das palavras.
(...)
Aprendes que a comunhão é materia delicada, gelo fino, nó frágil. Juntos naquele abraço irrepetível, siamês, desmembrados quando estala a tormenta. Assustado, sem saber o que fazer, ele isola-se. Empurra-te para longe, afasta-se do abraço.
(...)
Já não são um, como jusgaste um dia, julgamos todos um dia, mas dois distintos, como somos afinal sempre, se realmente abrirmos os olhos e não pensarmos só com o que bate dentro do peito.
(...)
Repara que quem foge arquitecta logo a expiação. Incapaz de suportar olhar-se a fugir, ele aponta-te e pretende mostrar que o obrigas a isso. Ele é a vítima. Na dúvida inquieta, procura e julga encontrar-te a culpa.
(...)
Nasceste lá para oriente de ti. (...) Sentes por vezes já o crespúsculo em ti, quando todos os outros se esperguiçam ainda.
(...)
As árvores também morrem. (...) Porque muitas vezes parecem vivas mas se repararmos melhor os galhos lá de cima são já uns garfos encurvados, assim como os dedos dos velhos e das bruxas, e se rasparmos um nadinha com a unha verificamos que a madeira é toda igual. (...) Nem sempre a morte é absolutamente visível, ainda que diante de nós, e tantas vezes julgamos que uma árvore vive ainda, pela simples e enganadora evidência de se encontrar de pé."
Rodrigo Guedes de Carvalho

Inxalá

"Por isso se parte. Se foge. Se finge que se foge. Porque não se foge nada. Não se parte. Não se descobrem terras nem estranhos. Descobre-se cada um a si mesmo. Descobre-se a mão que se tinha nas mãos. As linhas da mão das mãos. O sentido que se traz dentro das mãos. Por isso não se parte realmente. Só se finge que se parte. E a viagem é a forma mais fácil de fingir. E assim foi ela para onde achava que devia ir porque o seu coração a guiava, e deve ter voltado para aquilo de que nunca partira. E assim fugi eu para onde achava que me podia perder porque perdera o meu coração e já não era possível voltar para o que de mim partira. Porque se partira."

Carlos Quiroga

Monday, October 20, 2008

Recuso-me a reger os meus dias pela iminência de mais uma perda...!

Deixei de ouvir a música que acompanhou os momentos altos do meu fado e deixei de ollhar imagens, de recordar gestos e tive que esconder os objectos desse tempo de fadas, para que a dor não ressurja a cada hora, a cada instante...

Mulher feitiçeira, mulher com coragem sem fim...? Não sei se se perdeu dentro de mim, mas não lhe sinto a vida como antes, pulsante no meu sangue... e resolvendo seguir adiante na certeza de melhores dias e dos muitos caminhos, sorrisos e abraços que ainda tenho para receber, do simples e imenso êxtase de estar viva e receber da terra mãe as forças para manter o equíbrio.


E os dias correm mas jamais serão completos enquanto sentir dentro as lágrimas frias, que agora têm dificuldade em sair, em rios de sentimentos como antes, quando nunca deixava acumular mágoas e feridas e as chorava literalmente até à exaustão, para depois renascer!

Sinto-me de tal modo frágil, vitima de distâncias que nunca procurei, que tenho sonhado frequentemente que estou emlabada no colo de um gigante que bem podia ser Deus e que trata de curar todas as feridas, que a necessidade de um mundo com mais afectos e a sua ausência real causa em mim. Deus! Ele que nos deixou o desafio de dar sem esperar receber e que nestas alturas parece impossível de cumprir.

É realmente grande o desafio de viver sem esperar receber e maior ainda o de perceber que para lá de toda a a nossa dor e mundo pessoais, a responsabilidade de dar é permanente.

Quando isto acontece acabamos por ficar magoados com os que nos são próximos por não perceberem o que se passa connosco e a nossa necessidade de receber. Por outro lado ao demontrar isso, impulsionamos nessas pessoas, que são o cerne da nossa vida, sentimentos de culpa, por se terem elas também perdido nas suas tempestades, sem atenderem prontamente à tempestade do lado.

Como gerir tudo isto e não deitar fora as partes boas da vida durante uma fase crítica? Como dar sem limites, quando estamos tão carentes de receber? Que desafio à transcendência!


Tenho estado fechada na minha carapaça a curtir a minha dor, apesar de parecer circular por ai com todo o ar da minha graça. Também me senti sozinha e imcompreendida por todos... fora do mundo, como costumo dizer e por isso inconscientemente calei tudo o que a alma sentia desordenado. No momento não sei sequer se sou capaz de abrir a tampa da concha para espreitar o mundo cá fora, onde não existem afinal as coisas como até hoje as percebi.

Tantas necessidades internas e depois as necessidades externas dos que me rodeiam. Se calhar não consigo corresponder ao que esperam de mim. Talvez seja um fracasso emocional, apesar de pensar que sou muito sensível aos outros e aos sentimentos.

Niguém identificou a minha capacidade de amar e o amor que realmente sinto, só porque não estive e não o demonstrei de uma forma corriqueira e facilmente imaginável, replicável do mais hollywoodesco dos cenários.

O amor é maior e deve deixar de se reger pela expectativa...

As vezes esperamos que as pessoas adivinhem como estamos e que respondam às nossas necessidades, outras só aceitamos o seu amor se ele for exactamente como o imaginamos ou como doamos o nosso.

Será que vale a pena ferirmo-nos uns aos outros, consciente ou inconsientemente, quando o que precisamos é descentrarmo-nos de nós para perceber que o outro também sente e sofre como nós e que por isso se perdeu nessa torrente de lágrimas internas ou externas, num cantinho só do seu mundo, ora não querendo ver ninguém, ora necessitando de todos os abraços?

Estou triste como à muito tempo não estava e isso irrita-me, pois não consigo aproveitar as coisas boas que simultaneamente às más me vão acontecendo. Sinto-me impotente, pois não consigo ter forças para me dar aos que amo como eles precisam, ora por não reconhecer as suas necessidades, ora por não ser capaz de enfrentar algumas situações.

Sei que preciso ter coragem e voltar a vestir a minha pele feitiçeira para ir á luta, que mais tarde ou mais cedo preciso de descobrir num dos meus muitos Cd’s de mp3 datados de longe e de tão perto, umas faixas que ainda não tenha escutado e que me levem a navegar junto aos passos que fui dando na areia, de forma a poder voltar a contemplar as imagens e as recordações, os objectos...voltar a sentir os cheiros e as sensações, recolocar a minha pequena cadeirinha e a bussola no lugar onde as coloquei antes, sem que isso me fira primeiro a vista e depois o coração.

Preciso mesmo de enfrentar os meus passados e de consolar todos os fantasmas, retirando deles tudo o que de bom me fizeram viver e sentir, transplantando só essas virtudes para o futuro que me aguarda.

Para isso preciso chorar ainda um mar, que se tem recusado a sair e que me força a fingir que está aparentemente tudo bem. Pois bem... recuso-me a continuar a vida neste corre corre em que sei que uma parte de mim partiu para sempre... mas nada faço para cuidar desse lugar vazio, nem para pensar em maneiras de o voltar a preencher! Recuso-me a continuar a ignorar que esse lugar ainda lá está e que afinal não está assim tão vazio, mas sim preenchido de restos naufragados que posso recuperar e cuidar, agora que sei que jamais sairão de mim...

Recuso-me a reger os meus dias pela iminência de mais uma perda...! Afinal se quisermos nada se perde...


Sei que posso ser feliz sem essa parte de mim que partiu e com as partes que nunca cheguei a construir, por entre os precalssos da vida... Sei que a porta estará sempre aberta para que elas voltem a entrar ou para que finalmente eu as reconstrua num sentido positivo ou elas se contruam, mas tenho que ter presente de que não depende só de mim que essas partes, agora à deriva, queiram fazer de alguma forma ainda parte da minha vida...

Sei que posso cuidar desse espaço e que tenho que sobreviver a todas essas possibilidades... mesmo às que fecham a porta pelo lado de fora, pelas que ficarão pela ombreira da minha porta, sem querer voltar a cruzá-la e a reinventar toda a energia que sinto espalhada pelo ar ou pelas que partirão por que chegou o seu tempo...

Sei que tenho que libertar a cada dia um pouco destas lágrimas que me percorrem internamente e deixar sair aos poucos uma dor que quis guardar...

Serei dela merecedora, mas tenho o direito de sorrir e envergar os braços abertos ao sol, na praia que nos viu nascer e aproveitar cada segundo com um sorriso, sem que isso signifique por dentro angustia e incerteza, a cada segundo, face às batidas soltas ou loucas de cada coração!

Thursday, September 25, 2008

Pelo que me faz falta mas a cada dia se afasta...

Falta muito, muito pouco para não aguentar mais...
O que será que vem a seguir a não aguentar mais...?
Espero não ter ainda de saber...
O desprezo é um veneno para os dias e a distância uma miragem quando não se avista nada!
Estou prestes a ceder não sei bem a quê, a que vontades, desejos e lágrimas de chorar o eu cá dentro escondido, entre o que sente como raizes de semente a perfurar a terra, teimando em deixar a sua marca e a estender os seus ramos frondosos para fora de mim...
Nem esses ramos tocam aquilo que preciso.
Nem eu sei onde encontrar a paz e a sensatez de me imiscuir desta sofreguidão da alma pelo que não posso ser, não posso ter, pelo que me faz falta mas a cada dia se afasta numa clara expressão de querer e não querer!
E acho mesmo que não vou aguentar mais...

Tuesday, September 16, 2008

Dor difícil de enfrentar...
dor da perda
Saudade, necessidade de a contar...
Certeza! Sensação de vazio!
Aquilo que vivemos muda a gente, mas não o que se sente.
A vida não volta a ser a mesma, é como o leito de um rio...
Nada ficou, nem que preso por um fio...
Quais os erros, quais as virtudes?
Daqui já nada avisto, nem mentiras, nem verdades, nem sossegos,
a não ser dor, sempre a mesma...
a que vem da permanência do amor...
Que é feito dos momentos de calor?
Das retinas a brilhar?
Do que não existe para contar!?

Wednesday, September 3, 2008

Saudades

Podemos sentir saudades de quem está perto. Essa palavra de poesia feita de perda e distância, onde quem sofre é quem fica na espera da nostalgia partida.

Mas que é possível matar as saudades, pois, relembrando a alegria dos momentos e das coisas eternas que ficam dentro, entre os suspiros brancos da memória.

E quando nos meus olhos nada mais restar dos rostos que saudo, sei que continuarão meu fado.

E sorrindo vou mentindo à dor, para que esta saudade não me sufoque a vida e dentro dos meus braços sonho todos os abraços.

Dor que é passado que ainda não deixou de ser saudade, nesta parte de mim que sinto para lá do pranto do coração a transbordar pelos olhos.

Saudade! O que resta hoje para sentir os mundos que vivi! O tempo avança, mas a saudade ilude os momentos e os rostos acompanham-te para todos os lugares.

Vento que passa pelas pegadas da vida, incapaz de apagar imagens que a saudade guarda como se de retratos se tratassem, nessa constante presença de quem não está!

Monday, August 4, 2008

Humanidades


Eu sou de parte incerta
e de todas as partes concretas
e não me sei capaz de criar crianças certas
ou de depositar nelas esta alma de poeta
num mundo com a cor da morte
onde se luta com a sorte
para receber a pureza do olhar
e a certeza da palavra amar!
Nasci colorida por muitas cores
transviada e dedicada a todos os amores
que podiam caber em mim
e por eles em cada dia
a exaltação de escrever os sentimentos
que preenchem de emoção
e pela vida a sofreguidão
por sentir o mundo em todos os momentos
sem vontades tortas ou horas mortas
nesse descobrir de maneiras e manias
diferentes das minhas
no ir amando os passos que a meu lado caminhas!

Wednesday, July 30, 2008

A uma ausência...

Sinto-me, sem sentir, todo abrasado
No rigoroso fogo que me alenta;
O mal, que me consome, me sustenta,
O bem, que me entretém, me dá cuidado;
Ando sem mover, falo calado,
O que mais perto vejo se me ausenta,
E o que estou sem ver mais me atormenta,
Alegro-me de ver-me atormentado;
Choro no mesmo ponto em que me rio,
No mor risco me anima a confiança,
Do que menos se espera estou mais certo;
Mas se de confiado desconfio,
É porque entre os receios da mudança
Ando perdido em mim, como em deserto.

António Barbosa Bacelar
(1610-1663)


Wednesday, July 23, 2008

Uma resposta em nenhuma pergunta!

Como descrevem estas palavras minha alma...
É fácil não querer saber, ter medo e fugir
Ser um personagem distante
É fácil beijar quem pouco te mexe
O difícil é tremer
Desejar mais, arder de febre
Ter medo do que não se conhece
De descontrolar-se, de se perder, de se esquecer
Mas seguir adiante
Gelar as mãos
Suar o rosto corado de sangue
Ridicularizar-se
Palpitar o coração
Expor-se frágil dama, sendo homem ou mulher, às dolorosas boas penas
Se dar e às vezes se jogar a um desconhecido qualquer
Num gosto antítodo, intenso
Gostar do atrevimento e do profundo irrompendo
Fazendo-se viver realmente em dobro
Perceber o que não se fazia perceber
É um sisco o provisório demais
Não ser radical e inteiro ao que pode o bem
O bom mesmo é viver a generosidade da entrega
Responder ao aperfeiçoamento que não havia ainda
A soma do que começa e do que finda
A vida e a morte quando se beija
Às vezes coragem é ficar de frente
Tremer e não correr perante o gigante
Se sentir inocente
Sonhar numa plenitude como se tivesse chegado a eternidade
E de nada mais importar-se
Falar palavras tontas numa dicção solene
Sentir o coração rebelde chocalhando, chamando, querendo, pedindo, independentemente
E então não resistir à fome que a alma e o corpo temem
Se ver na letra que a música grita, que antes, careta, não se suportava
Num susto se percebe docemente que agora existe um único sentido
Uma resposta em nenhuma pergunta
Tudo se torna dele
Das intensidades do amor que vão da angústia à felicidade
E é talvez a unica arte que a arte transmita ao homem em sua total integridade...



Vanessa da Mata

Friday, July 18, 2008

Longe do mundo...

Hoje passei o dia longe do mundo... do mundo que os olhos podem ver ou que os ouvidos podem escutar... mas perto do mundo que o coração sente!

Os pensamentos começaram a correr e agarrei-me à felicidade, que não vou deixar fugir, através dessa certeza, de que todos os momentos são únicos, incomparáveis e eternos, permanecendo vivos dentro de nós...

É esse crer básico que me afirma que tudo é uma coisa só e que podemos aceder à energia e atracção que une a criação, que me acalma e que me mostra que tudo permanece acessível e que é possível gostarmos de nós, como realmente somos e dos outros como eles se apresentam...

Esse crer que me fez deixar de chorar os passados, porque eles simplesmente não existem, afinal demorei tanto tempo a perceber que tudo se encontra irremediávelmente ligado e vivo ao infinito.Tudo o que vivemos continua no presente a emanar um sentido para a vida...


Pela primeira vez não falo melancólica das dores da alma e depois de receber notícias de outros momentos sinto-me capaz, de humilde, pedir perdão pelas magoas injustas causadas ao longo do caminho, por causa do meu egoísmo afunilado, que me impedia a verdade. Sinto agora que posso deixar que ouçam sem palavras, aquilo que prometi calar ou que não sei expressar de mim, do que sou e sinto...

Senti vibrar dentro de mim certezas, que fizeram partir a dúvida e laços que se preservam e pensava perdidos. Enfim, percebi...

Senti o poder do olhar, desses lugares que mostram a alma e sem descrições ou demonstrações confirmei a voz que me falava ao coração! Podem chamar-me básica, mas na verdade as coisas básicas e simples sempre foram essenciais à vida, para que a harmonia e os afectos tenham lugar. E foi através das raízes básicas do amor que sempre resolvi anseios e problemas...

Sei que não vale hoje a pena complicar os momentos ou lutar contra eles e só me escapa a calma, porque verifico ainda em seres que amo a busca perdida desta luz salvadora e cósmica.
Uma luz que ajudei a apagar... mas que quero ajudar a reacender!

Longe do mundo das máscaras todos sabemos, que nada do que se diz e que acaba por magoar é afinal uma verdade sentida... que as defesas se usam na guerra, quando afinal desesperamos pelos abraços prolongados dos afectos...


E se as paixões se esvaziam, o amor à vida e aos que comigo a partilham será eterno e uno sem que nada o possa por em causa! É dura a vida quando vivida em nome do amor, mas longe do mundo que os olhos podem ver, depois de tocar novamente os corações amados e perceber que estamos unidos, para lá de todos os acontecimentos, não há mais espaços vazios nem falta de felicidade...

Eis o meu simples e básico segredo para ultrapassar a dor e curar as feridas!

Monday, June 23, 2008

Tiros no pé...

Ao longo da vida sempre fui confrontada, inexplicavelmente, com a necessidade de enfrentar determinadas ausências, disfarçadas atrás de uma normalidade aparente. Fui dando tiros no pé, ao não perceber que eram sinais, sobre o tipo de caminho que um ser humano deve percorrer, enquanto a sua sagrada energia circula na terra.
Foram ausências com que não contava e que surgiram sempre depois de a minha imaginação e espírito livre, o meu coração aberto se entregar a amar... Sei hoje que tiveram uma razão, mas nunca percebi porque não podia contar com o ombro amigo, do sangue que une os irmãos ou com o aconchego de um abraço apertado e frequente de um pai, quando esses momentos eram necessários e me pareciam naturais!?
Nunca percebi porque selei a fogo, ao luar e a preces, amizades e amores infinitos que para mim continuam vivos dentro, eternos, mas cujos personagens partiram para bem longe sem deixar rasto... nunca percebi os tiros que dei no pé quando encontrava um lugar, que me preenchia, e abria a porta das gaiolas para deixar fugir esses passarinhos de emoção, dispostos a cantar para mim?!
Na aparência das circunstâncias, todos os que amei e de quem a minha alma tinha sede estavam por perto, mas no fundo, aos poucos foram-se tornando cada vez mais inacessíveis à minha necessidade de afecto e a tudo o que tinha para lhes dar... Umas vezes partiam inexplicavelmente... de outras tinha eu motivos para os deixar partir, sempre com o desejo de uma próxima visita e com a mágoa do seu não regresso inevitável...
No fundo o meu vazio era egoísmo e queria sempre mais do que estava disposta a oferecer. E tantas vezes me forçei a tentar esquecer a necessidade de receber e nem mesmo assim fui capaz de dar incondicionalmente. Antes, fechei-me dentro de mim com as minhas mágoas, dores e com as memórias dos momentos, em que essas perdas ainda não existiam e as relações eram plenas... E quanto mais corria atrás da salvação dessa energia vital dos afectos, mais ela me escapava das mãos e a sensação de distância, vazio e impotência face aos acontecimentos acabava por me preencher os dias.

Posso dizer que já sofri ausências de todo o tipo e sempre foram afectivas, na família, nos amores e amizades, no trabalho...mas houve sempre um lugar que não se desgastou, apesar das crises e convulsões...Um lugar que alguém deixou sempre aberto para mim, apesar das diferenças e da forma diferente de sentir e encarar a vida, à qual nem sempre soube ser grata, onde nem sempre depositei tudo o que tinha para dar...um lugar de onde já exigi muito, num tempo em que fugia a mais tiros no pé!
Um lugar calmo onde repousar de todas as ausências sentidas e todos os lugares vazios, que gostaria de manter preenchidos, um ser que me completa e me aceita como sou e que sempre permaneceu ao meu lado, demontrando prazer ao meu toque, ternura face às feridas causadas pelos inumeros tiros que fui dando nos pés, devido às carências e inseguranças.
Um ser que demontra luz e felicidade face ao som da minha voz e à possibilidade de podermos para sempre dormir aninhados, enlaçando os nossos sonhos, que me suporta para que possa concretizar os meus planos e realizar-me, que sinto às vezes contemplar-me embebecido, como se eu fosse o mundo!
Um lugar aparentemente calmo e pacato, que a minha natureza me levaria a rejeitar, mas que por trás do pano onde só eu e ele sabemos os bastidores, se encontra preenchido de aventuras emocionais, de inteligência, projectos, amor, perdão e coragem, que percorre o mundo a caminho ou apenas sobre as almofadas da imaginação. Uma história que julguei nas alturas de crise, um lugar comum, mas que afinal é uma contrução unica e só nossa, um templo divino, que aprendo dia a dia a respeitar e a preservar.
Compreendo hoje esse destino comum à humanidade... essa necessidade de sentir a ausência para que possa alcançar a unidade de tudo e a realidade feliz de nunca estarmos sozinhos, no percuro semelhante a um rio que não para de correr, mas onde as mesmas águas só passam uma vez pelo mesmo lugar, contudo, moldando as margens para que se tornem perfeitas como trilho... Afinal todos os momentos são importantes!

Compreendo hoje essa necessidade de sentir a ausência, para que possa dar valor às presenças contantes e amantes que deixamos de ver, quando nos descentramos da capacidade de amar! Sei agora que é possível ser feliz suportanto a dor dessas ausências e de todas aquelas que ainda vivem em mim e das que estão por vir, transformando-as em seiva e alimento que me reforça, para continuar até um dia ver o mar...
Agora sei onde encontrar tudo o que preciso! É nas margens do caminho que permanecem as recordações das presenças, das amizades, laços e paixões que foram com a maré... Hoje sei que posso sentir a plenitude da vida e deixá-la cobrir o meu ser, porque para regressar a essas histórias e torná-las presenças vivas, basta deixar a corrente por uns instantes e percorrer a pé o percurso da margem, até ao lugar do passado onde quero voltar... para ali ficar e acariciar os momentos da minha vida como pedras preciosas... Afinal não há tempo, somos aquilo que somos e tudo é uma coisa só... É mais fácil realizar o caminho sabendo que nada se perde, mas que apenas tudo evolui e se transforma, sabendo que as ausências humanas nada valem à luz da presença divina, criadora e constante a meu lado e a essa lugar, a esse ser humano como eu, mas que posso chamar de amor, de casa e de porto seguro para ganhar forças e seguir...
Ah! Também descobrir que para amar são mesmo necessários muitos tiros no pé, mas que nesses momentos alguém nos carrega ao colo e nos deposita nas águas, que acalmam dores, vontades, desejos e paixões e nos ajudam a descolar dos caminhos que deixamos para trás na certeza de saber escolher!

Monday, June 16, 2008

Deixei de ter insónias...

Insónia!? Deixei de ter insónias assim que me apercebi que havia uma forma de lidar com os meus hospedes indesejados. Seres de luz e de trevas dentro e fora de mim. Como despresava antes a sua utilidade...
Agora e de há uns dias para cá durmo um sono de sonhos, que começam a ecoar nas horas acordadas. Retiro dessas noites encaloradas a força inconsciente para viver e contar a história, para realizar o que sou, com gosto e vontade de o ser mais... Demonstrar a existência de algo que lembra a omnisciência do ser, que colecciona memórias de outras vidas, num canto de amor.
Na fronteira entre o êxtase e a dor, regressar ao centro, certa dos passos dados, das festas sentidas, das danças e da musicalidade da esperança.
Afinal a escolha do que ai vem está tão acessível como as recordações, como as canções que recordo da infância e que me acalmam o pânico de outros dias, em que me achei perdida e distante das benéficas vibrações que tudo unem.

Sinto o cheiro das rosas no ar e das amoras a popular-me nos lábios e podia esta ser uma noite quente sobre a areia fria, mas ainda há bilhetes para muitas viagens que quero e posso fazer.
Tão bom que foi tirar estes dias, este tempo que não há só para mim, para estar pelas paredes dos afectos e acariciar os que comigo partilham a vida, para pensar e recordar sensações e outras pessoas e momentos marcantes, de forma feliz e chorar mas de alegria pelo sangue que me corre nas veias, ao som de músicas que dizem tudo sobre mim, sem nunca o seu autor me ter conhecido.

Foi bom sorrir através das banalidades da vida, aceitar o risco de viver e acordar de bom humor, brincando com coisas de nada que tudo fazem pela felicidade e agradecer a força que me fez seguir em frente e que na maioria dos dias não reconheço.
É bom saber do poder de prever regressos quando for a hora e aprender que às vezes vale a pena escutar o coração e sentir o espírito pulsar de um destino traçado, mas que podemos moldar, de missões a cumprir sem que o sacrifício e a abnegação doam onde e quando não devem amargar na alma.
Hoje e de alguns dias para cá, sinto-me mais livre para fazer o que quero, sem pressas, sem sobressaltos, sem a ânsia do momento e da obrigação seguinte e posso estar aqui a escrever sem que este momento perca o valor pela preocupação com o dia de amanhã.
Sei que vou crescer e escrever até ao último suspiro e até que reencontre toda a sabedoria que não sei em mim e que me une a tudo o que necessito, desejo e que me faz feliz!